13 Agosto, 2020
Amar é uma Escolha - Parte 01
Parte I
Você deve estar se perguntando “o que este título tem a ver com um artigo jurídico? ”, mas acredite, sua relação com o Direito de Família é imensa.
Quando comecei a atuar nessa área do direito (e lá se vão mais de 26 anos) não tinha a percepção de hoje, que só a experiência traz, mas sempre me questionei “o que levou a relação a esse ponto? ”, pois quando os casais procuram um (a) advogado (a), em sua maioria, já se encontram tão vazios de sentimentos um pelo outro que não conseguem perceber que amar é uma escolha.
Após ouvir a história de cada um individualmente, e depois de forma conjunta, é possível encaixar as peças do “quebra-cabeça conjugal” em seus devidos lugares, e, por ocupar uma posição neutra na situação, permito-me fazer algumas intervenções com o casal. No decorrer da conversa, após algumas perguntas pontuais, fica claro o motivo que os levou até o meu escritório: ambos estão sufocados por um relacionamento no qual não conseguem mais compartilhar escolhas, sonhos, anseios, projetos em comum e frustrações, mas, acima de tudo, não desfrutam mais do prazer de estar ao lado da pessoa escolhida para compartilhar a vida e formar uma família.
O amor pode ser silencioso, mas precisa existir; ele deve ser regado como uma planta, para se manter com vigor e dar frutos. Portanto, não sabote o seu relacionamento por falta de atos de amor. Quando você negligencia tais atitudes, o amor enfraquece e a relação conjugal fica vulnerável – sinais que servem de alerta para indicar que o relacionamento não vai bem, os quais, se não forem percebidos, trazem o risco de perecimento da relação. A sútil diferença entre estar vulnerável e não amar mais o parceiro consiste em uma linha muito tênue, que normalmente não é compreendida pelo casal.
Amar é algo que se faz por outra pessoa, não para si mesmo, gerando um sentimento de pertencimento que nos dá segurança emocional. Devemos lembrar que o ser humano possui a necessidade essencial de sentir-se amado e que cada indivíduo é único, existindo diferentes formas de amor, que dependerão dos anseios do (a) companheiro (a) e de compreender a “linguagem do amor” que cada um traz consigo. Essa interpretação é fundamental para um relacional saudável.
Você sabe o que diferencia um casamento de uma sociedade conjugal? O sentimento de amor. Quando esse elemento deixa de existir, a relação a dois passa a ser uma sociedade conjugal, as carências afetivas vêm à tona, e, nessa fase é que muitas vezes é dissolvida com outro instituto jurídico: o divórcio.
Nesse estágio, o casal já deixou o diálogo de lado há bastante tempo, parou de se importar com o bem estar do outro e não escuta verdadeiramente o que ele (a) fala – arrisco dizer que sequer percebe estar agindo dessa maneira –, pois já está pensando na contestação daquilo que lhe traz inquietude. Agindo assim cria-se um distanciamento emocional, ou, como costumo dizer, levantam-se muros emocionais ao invés de se construir pontes para o diálogo, gerando um enorme desconforto que, muitas vezes, não é admitido, mas que causa imensa dor tanto em si como no outro.
Proponho, portanto, um exercício: você consegue ouvir o (a) seu (ua) parceiro (a)? Sem fazer interferências, até que ele (a) conclua sua linha de raciocínio ou sua simples explanação? Experimente essa dinâmica com seu cônjuge, asseguro que você ficará surpreso diante do que irá descobrir sobre ele, e, também, sobre você mesmo.
Amar exige coragem! Contudo, chegar ao escritório de advocacia para “resolver” um problema de Direito de Família é também uma demonstração de coragem, já que sempre vem acompanhado de um apelo por ajuda, algumas vezes explicito, outras vezes oculto.
Adriana Dal Maso
OAB/BA 665-B
Dal Maso Advogados
Luís Eduardo Magalhães - BA.